Biologia em pauta

A importância da preservação do macaco como indicador biológico da Febre Amarela

29 de março de 2018 - Perseguidos como vilões, após terem sido encontrados mortos em diversos fragmentos florestais, principalmente nas bordas das matas, em decorrência do atual surto de Febre Amarela no Brasil, macacos estão sendo mortos por moradores dessas áreas por medo de contrair a doença. Na verdade, os macacos são vítimas e indicadores que há ocorrência dessa doença em seu habitat. São os “sentinelas” da floresta.


Com o desaparecimento desses mamíferos há um desequilíbrio ambiental, situação que leva os mosquitos transmissores, que habitam o alto das árvores e que têm preferência por picar macacos, a voarem mais baixo e a procurarem uma fonte alternativa de alimentação, que são os seres humanos, principalmente os que adentram as matas, pois se tornam alvos potenciais de picadas e, consequentemente, correm risco de serem infectados pelo vírus da febre amarela. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) o vírus da febre amarela possui dois ciclos básicos: o urbano e o silvestre.


No ciclo silvestre a transmissão envolve principalmente primatas não-humanos nas regiões de mata e os mosquitos infectados dos gêneros Hameagogus ou Sabethes e Haemagogus janthinomys, a espécie que mais se destaca na perpetuação do vírus no Brasil. Os mosquitos infectados picam um macaco sadio, transmitindo a doença. Uma vez que o macaco foi infectado, ao ter seu sangue sugado por um mosquito livre do vírus, esse mosquito passa a também carregar o vírus, contaminando outros primatas. Os humanos suscetíveis, ao frequentarem áreas silvestres, podem ser picados por mosquitos infectados. Assim, o óbito de macacos em determinada área é um dos principais indícios de circulação do vírus em regiões de matas e florestas, servindo como um alerta para as autoridades de saúde adotarem medidas de prevenção, com a vacinação dos moradores da região.


No Brasil, os períodos em que frequentemente ocorrem surtos estão entre os meses de dezembro e maio, uma vez que o aumento de temperatura e do índice pluviométrico propicia a proliferação de mosquitos. O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB) informa que todos os primatas neotropicais são vulneráveis ao vírus da febre amarela, sendo os gêneros Alouatta (bugios, guaribas) e Callithrix (saguis, micos) mais sensíveis que os demais, com alta taxa de mortalidade.


O Ministério da Saúde alerta para que a população não mate os macacos, principalmente em regiões onde há incidência da Febre Amarela em humanos. É importante ressaltar que os macacos não são transmissores, e sim tão vítimas quanto os seres humanos e grandes aliados, pois são indicadores biológicos da presença do vírus em determinada área e servem como guias para a elaboração de ações de prevenção. Além disso, matar animais é considerado crime ambiental, estabelecido no Art. 29 da Lei n° 9.605/98 - Lei de Crimes Ambientais: “Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”, e pode gerar pena de seis meses a um ano de detenção, mais multa. Devido a essa preocupação com o controle ambiental, com a manutenção da vida dos primatas e com a saúde da população o ICMBio recomenda que:


1. Ao encontrar macacos vivos, sadios e em vida livre: * Não capturar; * Não alimentar; * Não retirar do seu hábitat; * Não translocar para outras áreas; * Não agredir e muito menos matar.


2. Ao presenciar ou saber de agressões e matanças de macacos: Denunciar às autoridades de meio ambiente (Secretarias Municipais e Estaduais, Ibama, Polícia Ambiental/Florestal), pois isto constitui crime ambiental e prejudica o trabalho de vigilância sanitária, inclusive para prevenir o agravamento dos surtos de febre amarela.


De acordo com o Portal G1, em reportagem de 11/12/2017, “o Ministério da Saúde afirma não existir vacina para febre amarela licenciada para uso em animais no Brasil. Caso essa alternativa esteja disponível no futuro, informa o órgão, seria necessário realizar uma série de estudos, tanto epidemiológicos como para validação da vacina, além de avaliação da eficácia como medida de saúde pública, custo-efetividade, entre outros fatores".


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