A autorização pioneira do Reino Unido para a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica americana Pfizer e o laboratório de biotecnologia alemão BioNTech provocou um debate entre especialistas brasileiros sobre a viabilidade logística para a adoção em larga escala do imunizante no nosso país.
A vacina necessita de conservação a -75ºC em ultra-freezers e o transporte da fábrica para o Brasil e depois para os diversos pontos do território nacional precisaria ser feito em contêineres especiais.
Parte dos especialistas acredita que o Brasil não conseguiria criar condições logísticas para a distribuição e imunização em massa da nossa população com a vacina da Pfizer/BioNTech.
Outros especialistas afirmam que o Brasil tem, sim, condições de criar a infraestrutura logística, desde que haja investimento e vontade política. Argumentam que a necessidade de imunização é urgente e que o país não pode poupar esforços para operacionalizar o uso desta que é a primeira vacina autorizada.
Eles acreditam que o desafio logístico é comparável às dificuldades para obtenção de respiradores no começo da pandemia, que foram superadas. Citam o exemplo da imunização contra o ebola na África, continente com menos estrutura que o Brasil, cuja vacina precisava ser armazenada a -80ºC.
Há também um grupo que avalia que é possível criar uma estrutura logística para imunização em massa com a vacina da Pfizer/BioNTech, mas desaconselha essa opção devido ao custo elevado.
“Mesmo que o Brasil tivesse recursos financeiros, não teria condições operacionais para implantar uma cadeia de distribuição e aplicação dessa vacina”, avalia Horacio Teles, Biólogo Conselheiro do CFBio e registrado no CRBio-01.
Ele enfatiza que o Brasil tem população muito maior do que a do Reino Unido, que as distâncias aqui são muito maiores e que certas regiões do nosso país carecem de rede elétrica.
Horacio Teles sugere que o país centre esforços nas duas vacinas que serão produzidas aqui: a da Oxford/AstraZeneca, desenvolvida em parceria com o Bio-Manguinhos/Fiocruz; e a Coronavac, desenvolvida em parceria entre a Sinovac e o Instituto Butantan.
“De qualquer forma, não acredito que chegaremos ao fim de 2021 com um percentual significativo de cobertura vacinal no país”, prevê o Biólogo.
(Publicado em 03 de dezembro de 2020)