Biologia em pauta

Bacia do Rio Paraguai enfrenta maior seca em 50 anos

rio

As chuvas na última semana trouxeram algum alento, mas estão longe de indicar uma reversão da crise hídrica na Bacia do Rio Paraguai, afetado pela mais severa seca na região em 50 anos.

O nível do rio, que dá vida ao Pantanal, desceu a patamares alarmantes e criou condições para a proliferação de queimadas, em parte ocasionadas pela ação humana, que já destruíram pelo menos 2,3 milhões de hectares do bioma, segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo).

Com o início da estação de chuvas, espera-se que o nível do Rio Paraguai gradativamente comece a se recuperar. Mas a superação da crise hídrica depende de um volume de chuvas acima da média da estação na cabeceira do rio no Estado do Mato Grosso, o que pode, ou não, acontecer.

Para além de circunstância sazonais, o Biólogo Abílio Moraes, mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, aponta para a responsabilidade humana para a crise. Abílio cita não só o aquecimento global, responsável por ondas de calor jamais vistas em diferentes pontos do planeta, mas também a ação específica na região: “O volume do Rio Paraguai é afetado pela degradação das nascentes tanto em áreas rurais como urbanas, fruto da falta de proteção das áreas de preservação permanente (APPs) e do crescimento desordenado das cidades”, comenta o Biólogo.

Abílio é o coordenador técnico-científico do Projeto Água para o Futuro, do Ministério Público de Mato Grosso, que identifica, caracteriza, monitora, preserva e recupera nascentes urbanas no Município de Cuiabá com o uso de tecnologia de ponta. O projeto conseguiu confirmar a existência de 215 nascentes no município, das quais 22% estão conservadas.

Mas 78% das nascentes confirmadas estão degradadas por aterramento, resíduos sólidos, desmatamento, escoamento de esgoto e construções irregulares, entre outros fatores.

Nas áreas rurais, a prática de degradação das nascentes também impera. O agronegócio, em particular os pecuaristas, tradicionalmente não respeitam as APPs de 50 metros no entorno das nascentes, conforme previsto na lei 12.651.

“Os proprietários de terras avançam sobre as áreas para usar como pasto. Mas essa cultura está gradativamente mudando com as novas gerações, pessoal que estudou, fez faculdade, e entende a importância das nascentes”, completa Abílio.

(Publicado em 14 de outubro de 2020)

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