Biologia em pauta

A importância da interprofissionalidade na visão do Biólogo

artigo

Roberta dos Santos Pereira (Comissão de Saúde CRBio-01)

A incessante busca de conhecimentos científicos no mundo moderno emerge da necessidade da interligação de diversas áreas da ciência, especialmente na área médica, sendo tal diligência, um pilar fundamental na formação dos profissionais em saúde.

A interprofissionalidade trabalha a integração de saberes onde cada problema será solucionado reunindo a visão profissional de cada autor envolvido no trabalho, refletindo sobre os papéis profissionais, construção de conhecimentos e respeitando as diferenças dos núcleos de competência e práticas profissionais (ARAÚJO et al. 2017).

A prática clínica baseada nas melhores evidências científicas, em cooperação com outros profissionais da área da saúde, através de uma adequada integralidade de conhecimentos, pressupõe melhor racionalização nas tomadas de decisões e intervenções quando necessário, além do entendimento da magnitude do processo saúde-doença, extrapolando assim, o campo unicamente biológico.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), saúde pode ser definida como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença” (OMS, 2018 p.4). Nesse sentido, a atuação do biólogo é de suma importância em áreas da saúde tais como, Vigilância Sanitária e Epidemiológica, Saneamento Básico, Diagnóstico e Pesquisa, exercendo papéis importantes na assistência, assessoria, consultoria, direção e gerenciamento. A Resolução Nº 287/98 do Conselho Nacional de Saúde reconhece o exercício do biólogo na Saúde e legaliza sua atuação em diferentes esferas da rede.

Tem sido cada vez mais comum a abrangência e diversidade de profissionais da Saúde em programas de Residência Multiprofissional em Saúde, mostrando a importância do trabalho interdisciplinar e oferecendo mudanças a formação profissional em relação ao modelo médico-assistencial. Entre os profissionais que vem ganhando espaço em programas de Residência está o biólogo, que tem se destacado e mostrado a importância dessa categoria nas diferentes esferas da rede de Saúde, inclusive a Saúde Coletiva (ARAÚJO; NETO; MORAIS, 2019).

A importância de se trabalhar a interdisciplinaridade dentro da Saúde Coletiva já foi debatido por grandes pesquisadores dedicados a caracterizá-la como campo científico e social. Dentro das Unidades de Saúde, o biólogo se constitui como o profissional mais eclético ou abrangente para atuar junto às equipes de Saúde, pois sua formação parte do princípio da multidisciplinaridade, uma vez que pode trabalhar em áreas que envolvam as relações entre o homem, meio ambiente e saúde.

Nesse sentido, este profissional está apto para realizar ações de vigilância sanitária, epidemiológica, saúde ambiental e animal, elucidando questões sobre o ciclo de vida de vetores de doenças como dengue, malária, esquistossomose e doença de Chagas, assim como a Biologia Molecular desses organismos. Além disso, o profissional biólogo pode atuar também na orientação sobre diversos assuntos relacionados à saúde humana como as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) (LUZ, 2010).

Conforme estabelece a Resolução Nº 227/2010, profissionais da Biologia são habilitados a atuar em 25 áreas em Saúde.

A atuação do profissional biólogo, durante à pandemia do COVID-19, serve de exemplo em relação à magnitude de setores e ações que são campo de trabalho.

Os laboratórios de saúde pública (LACENs) e os de referência nacional, os das Universidades Públicas e os laboratórios privados, que deram e continuam dando, todo o suporte para o entendimento da dinâmica da pandemia e para o diagnóstico dos pacientes suspeitos de estarem com o vírus, possuem em seus quadros de colaboradores profissionais biólogos. Além de ter evidenciado a relevância desses colegas como colaboradores na tomada de decisões e projeções sobre o comportamento da COVID-19 nas populações.

Há também vários grupos desenvolvendo pesquisas voltadas à produção de vacinas e à identificação de substâncias e medicamentos eficazes e seguros para o tratamento dos doentes, além de kits comerciais e reagentes para auxiliarem no diagnóstico laboratorial dos agravos. Em todas as esferas de gestão do SUS e em empresas privadas, há biólogos atuando no planejamento e desenvolvimento das estratégias de contenção e enfrentamento a pandemia e outras epidemias.

Para Robson Michael Delai, biólogo e um dos profissionais que estão na linha de frente ao combate à pandemia, a compreensão que os Biólogos têm do meio como um todo é uma grande vantagem para a profissão. “Não adianta pensar só no indivíduo da espécie humana ou o vírus na espécie humana, porque existe interação entre o ambiente animal e o humano. Em média, de cada dez novas doenças, cinco ou seis são oriundas de animais, ocasionadas em razão do desmatamento, da invasão da população humana, do tráfico de animais silvestres e de uma série de outras situações. O Biólogo leva uma vantagem por conhecer essas áreas um pouco mais a fundo do que quem está na área da saúde, mais focado em seres humanos”, conclui.

No SUS, a Atenção Primária é constituída pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), pela Equipe de Saúde da Família (ESF) e pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).

No caso específico do Programa de Saúde da Família, a equipe deve trabalhar inicialmente o diagnóstico de saúde do seu território, estabelecendo suas prioridades, o planejamento do trabalho e adaptando os programas à realidade local, portanto, o biólogo pode atuar tanto na identificação de fatores ambientais como também em fatores genéticos interferentes na promoção da saúde. Muitos biólogos têm treinamento e conhecimento sobre fatores de risco genéticos que aumentam a probabilidade de ocorrência de doenças em certas famílias. Nesse caso, o biólogo pode ser o profissional que identifica as famílias com risco genético aumentado a procura de ajuda especializada em serviços dessa área.

Já a Atenção Secundária é formada pelos serviços especializados em nível ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a terciária. E a Atenção Terciária designa o conjunto de terapias e procedimentos de elevada especialização. Em todos os níveis de prevenção em saúde, é necessário ter uma equipe multidisciplinar para que ocorra o cuidado integral do paciente.

Nesse contexto, o papel dos biólogos é contribuir no diagnóstico precoce, atuando diretamente nas áreas técnicas para a execução dos exames, inclusive em bancos de sangue na realização de testes de compatibilidade entre outros, que podem ser de baixa complexidade, até aqueles mais complexos que utilizam tecnologias de ponta. A identificação e confirmação do diagnóstico precoce, impede que a enfermidade avance ou tenha o seu quadro piorado e em casos de doenças infecciosas, quanto antes diagnosticados, podem reduzir sua disseminação na população.

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, mais conhecidas como PICS, são recursos terapêuticos e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), fazem parte da Medicina Tradicional e Complementar. O Brasil é referência mundial na área de práticas integrativas e complementares na atenção básica, estando presentes em quase 54% dos municípios brasileiros. O biólogo, quando capacitado, também pode atuar nas PICS, proporcionando a sensação de bem-estar, relaxamento, alívio de stress, atuando na prevenção de doenças e complicações, na redução de sintomas físicos e mentais, e na recuperação e promoção da saúde.

Não podemos deixar de citar a importância dos profissionais biólogos na área da educação dentro da saúde, pois é nossa responsabilidade adquirir os melhores e mais aprofundados conhecimentos e transmitir a forma mais responsável possível. Isto, devido a relevância da ciência na prevenção e tratamento da doença, principalmente em tempos de negacionismo.

Concluindo, de acordo com o código de ética do profissional biólogo (Resolução nº2 de 5 de março de 2002), dos princípios fundamentais Art 2º - Toda atividade do Biólogo deverá sempre consagrar respeito à vida, em todas as suas formas e manifestações e à qualidade do meio ambiente e Art 6º dos deveres profissionais do biólogo - IV - Contribuir para a melhoria das condições gerais de vida, intercambiando os conhecimentos adquiridos através de suas pesquisas e atividades profissionais. Portanto, cabe a nós profissionais de saúde, a integralidade de conhecimento e a cooperação com outros profissionais para que seja possível atingir a maior e melhor integração entre o homem e o meio ambiente, visando sempre a saúde e bem-estar de todos.



Referências bibliográficas:

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“Caçador de vírus”, o Biólogo Dr. Luiz Eloy traz sua perspectiva sobre a COVID-19 – CFBio>. Consultado em 31/03/2023.
O Pet-saúde como instrumento para a articulação do profissional biólogo na saúde: narrativas da formação e dos desafios encontrados na prática. Ciências da Saúde: Pluralidade dos aspectos que interferem na saúde humana. José Aderval Aragão. Editora Atena. Ano 2022. Consultado em 31/03/23.
Biólogo fala sobre atuação da classe na área de saúde, em situações de pandemia. CRBio-08 - Conselho Regional de Biologia - 8ª Região. Consultado em 11/04/2023.
COVID-19: Biólogo fala de sua atuação dentro e fora do laboratório. CRBio-04. Consultado em: 11/04/2023.
Como Biólogos têm contribuído na luta contra o coronavírus – CFBio. Consultado em: 11/04/2023.
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5 Níveis de Prevenção em Saúde: Conheça todos!. Consultado em 19/04/2023.
Práticas Integrativas e Complementares (PICS) — Ministério da Saúde . Consultado em 19/04/2013.
Vida Saudável 2023 - Práticas Integrativas e Complementares (PIC). Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Consultado em 19/04/2023.

(Publicado em 3 de maio de 2023)

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