Desmatamento ameaça animais selvagens
No Dia Mundial da Conservação da Vida Selvagem, o Conselho Regional de Biologia da 1ª Região (CRBio-01) alerta para o processo de exterminação dos animais selvagens, um fenômeno mundial presente em escala preocupante no nosso país, onde espécies estão ameaçadas de extinção.
Giuseppe Puorto, Biólogo do Instituto Butantan e conselheiro do CRBio-01, aponta que o desmatamento é a principal causa do processo: “A perda de áreas naturais com o crescimento das cidades e o avanço das atividades agropastoris é a maior ameaça à vida selvagem”.
Ele avalia que o Brasil tem uma das melhores legislações ambientais do mundo, mas a fiscalização não é tão eficiente.
O Biólogo também chama a atenção para o problema do tráfico de animais selvagens, cujos montantes só são superados pelos tráficos de armas e drogas ilícitas. Papagaios, araras e jabutis são exemplos de animais capturados na natureza e transportados em grande número e condições precárias para venda no Brasil e exterior.
Giuseppe ressalta o papel dos zoológicos na conservação de espécies em extinção. A chamada conservação ex situ (fora do lugar de origem) consiste na reprodução em cativeiro de animais ameaçados de extinção para futura recolocação na natureza.
A Associação de Zoológicos e a Aquários do Brasil (Azab) assinou em 2018 um termo de parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para preservação de 25 espécies ameaçadas como: mico-leão-de-cara-dourada, tamanduá-bandeira, onça-pintada, lobo-guará, cachorro-vinagre, cervo-do-Pantanal, pato-mergulhão, jararaca, tubarão-mangona e tubarão-lixa.
A Bióloga Mara Cristina Marques, presidente da Associação Paulista de Zoológicos e Aquários (Apaza), relata que os zoológicos historicamente evoluíram das coleções privadas e da contemplação para os atuais pilares de educação ambiental, pesquisa, conservação e engajamento do público, além do bem-estar dos animais.
“Uma das nossas missões é a integração do in situ e ex situ. Os zoos têm populações bem estabelecidas de algumas espécies em extinção, que podem ser reintroduzidas na natureza”, afirma Mara Marques. “Os zoos são grandes aliados para a conservação”.
Segundo a Bióloga, há mais de cem zoológicos no Brasil, dos quais aproximadamente a metade está no Estado de São Paulo. Mara Marques também destaca o papel na conservação da vida selvagem feito pelos aquários, como os localizados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Guarulhos e no zoológico de Belo Horizonte (de água doce).
A caça é outra ameaça aos animais selvagens, destaca Hugo Fernandes, da Universidade Estadual do Ceará. O Biólogo, cuja tese de doutorado é sobre o tema da caça no Brasil, afirma que a prática ocasiona a morte de dezenas de milhões de toneladas de animais por ano no país. Há 526 espécies potencialmente vítimas dos caçadores, das quais cerca de cem são alvos frequentes. A mais afetada é a fauna de médio e grande porte, animais como pacas, antas e capivaras.
Hugo Fernandes esclarece que a caça no Brasil pode ser motivada por diversos fatores como: uso alimentar por necessidade ou aspectos culturais; controle (eliminação, por exemplo, de gaviões e onças), fins medicinais e mágico-religiosos; e, o mais perverso de todos, esporte. Há ainda a caça legal, como a de javalis, um animal introduzido no Brasil, que se tornou uma praga por não ter predadores naturais.
(Publicado em 04 de dezembro de 2020)